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Um lar temporário, um amor para sempre


Muitos procuram um animal para terem companhia. Outros atribuem a cura de dores emocionais aos seres de quatro patas. Mas, há aqueles que recebem os animais e usam seus corações para medicar tantas vidas abandonadas. O Portal Arauto conta nesta segunda-feira (3) a história de quatro voluntárias da causa animal, que iniciaram em Santa Cruz uma trajetória altruísta que transforma o destino da rua, em um lar quentinho, pronto para uma futura adoção. São as donas dos lares temporários e dos amores que duram para sempre.


Um primeiro passo para uma nova vida

Cathia Schmitz, fisioterapeuta, já foi lar temporário de mais de 20 cães. Por ela já passaram, inclusive, mamães com filhotes. Com um pátio disponível, a voluntária da ONG Protetores de Santa Cruz do Sul passou a receber os animais, sem preconceito. Um cão cego e outro com uma pata amputada já passaram por sua casa e ficaram em seu coração. A cada ajuda, se sentia mais humana. “Aprendemos tanto. É algo tão recíproco. Um primeiro passo para um recomeço e uma nova vida”, resume.


A cada adeus, uma dor no peito, mas a certeza de um dever cumprido. “A separação é difícil, mas sempre lembro que proporcionei o início do recomeço e o preparei para seu final feliz. É sempre isso que desejo”, diz. Cathia tem, de forma definitiva, cinco cães e dois gatos, que surgiram em sua vida antes do trabalho voluntário. “Sempre consegui manter o foco que seria temporário, afinal um indo para um novo lar posso receber um próximo para uma nova vida”, destaca.


Porém, mais difícil do que dizer tchau, é presenciar cenas que ela preferia não ter visto. Segundo ela, os animais ensinam que são capazes de amar e confiar novamente, mesmo com uma carga emocional e de vida, muitas vezes, trágica. Mas, mesmo tão puros, às vezes são devolvidos. “Já aconteceu três vezes comigo. Uma foi devolvida duas vezes. Na segunda, ela ficou quase três meses com a adotante, até ela descobrir que a cadela estava doente. Não nos disse nada e simplesmente arranjou desculpas. Quando ela me trouxe a cachorrinha de volta chorei muito, pois ela na sua maior ingenuidade me olhava com uma expressão que se questiona: por que estou aqui? Cadê minha mamãe? Por que ela partiu?”, lamenta.


Mas, Cathia prefere lembrar das lindas histórias que já presenciou. Daqueles que são adotados por famílias que o quiseram do jeito que são. “Me orgulho dos finais felizes. Sei que deixei um pouquinho de mim no coração e na memória quem passou pelo meu lar”, diz.


Mãe de 700 cães

A médica veterinária Marília Machado iniciou sua vida ativista da causa animal com 15 anos, quando abandonaram uma cachorrinha onde ela morava. Melissa foi seu primeiro resgate. Ao contrário da maioria, o amor pelos animais não surgiu na infância. “Meu amor foi despertador ao ver meus amigos com animais, pela crueldade com os pit bulls e com os abrigos que passei a conhecer”, conta.


Por sua vida e sua casa, nestes 10 anos de trabalho, já passaram mais de 700 animais. “Eles chegam sem esperança, desacreditados que um dia possam ser felizes de novo. Mas, em apenas alguns dias, mudam essa expressão. Eles enriquecem minha vida e eu a deles. Não é fácil. Não é uma vida sempre colorida, pois eles chegam carregados de muito sofrimento. Porém, sei que estou aqui por um propósito”, fala.


Diante de tanto amor conquistado em poucas horas, dizer adeus sempre foi muito difícil. Mas, dos dez anos de trabalho, em seis Marília sofria mais pela separação. “Eu não me desligava, ficava pensando se eles estavam bem, se estavam felizes, se eu havia tomado a decisão certa. Hoje vejo que sou o intermédio pra esse bichinho mudar de vida e que eu tenho a liberdade de escolher a família que eu quiser. Fiquei mais criteriosa e passei a comemorar muito o dia da adoção, pois eu havia conseguido mudar mais um destino”, relembra.


Em seu Instagram, Marília se define como mãe de vários peludos temporários e definitivos. Isso porque seu coração é de Ciara, há 12 anos, e de Malica, resgatada em 2012. “Ninguém acredita no que a Malica passou para sobreviver. Ela lutou muito e quando ela foi para um possível lar, eu não tive coragem de a doar. No dia eu não lembro como foi, eu não havia percebido, mas após algum tempo eu vi que ela havia nascido pra mim”, diz.


Marília segue seu trabalho com a certeza de que os animais são seres de luz. “Mesmo sofrendo, mesmo espancados, chutados e esquecidos, quando são resgatados, mesmo que demore, voltam a ser quem sempre foram: felizes, amorosos e gratos, mesmo diante de algo ruim”, considera. Por isso, a médica convida a todos a serem voluntários da causa animal: “Você tem uma força que talvez nem conheça. Você pode ajudar a salvar vidas que você nem imagina que existem”.


O temporário virou para sempre

Quando Francine Camara Kaercher lembra da infância, entende porque virou bióloga. Sempre próxima da natureza, sempre amiga dos animais. Ela ainda era uma menina quando procurou, pela primeira vez, família para os cães de rua. Então ela cresceu e, em 2012, passou a fazer parte da ONG Protetores de Santa Cruz do Sul. Depois de ficar um tempo como voluntária em eventos e também com doações, sentiu a vontade de fazer de sua casa, o lar de quem precisa. “Utilizei no início a casa dos meus avós, que estava desocupada e fica perto de onde moro. Lá, abrigamos mais de 20 animais do grupo”, relembra.


A primeira vez que Francine sentiu a dor de ficar longe de um dos animais temporário, foi quando conheceu Dorothy. No período que a cachorra passou pela sua casa, a família enfrentava problemas de saúde e o ser de quatro patas se tornou uma companheira que a tranquilizava, ao lado de Tobias, cão hoje com 13 anos. “Ela foi para várias feiras de adoção e acabava voltando para minha casa. Um dia, ela foi conhecer uma família e ficou lá. Fiquei feliz por ela e muito triste por perdê-la. Quatro dias depois, ela fugiu da residência. Fomos procurá-la, a encontramos e ela nunca mais saiu daqui”, conta.


Essa situação aconteceu outra vez, com Lola, depois que Francine tinha inclusive ficado um tempo longe da ONG, por conta de um intercâmbio nos Estados Unidos. Ao voltar de lá, com estudo em comportamentos caninos, sua vida cruzou com a de Lola. Depois de uma tentativa de adoção frustrada, a cadela participaria de uma feira. Porém, minutos antes de sair para o evento, decidiram que Lola já tinha uma família.


Por fim, chegou Lilica, resgatada com dois meses, com fratura em duas patas. O animal foi diagnosticado com subluxação atlantoaxial, que é uma instabilidade nas duas primeiras vértebras da coluna. Fran e a família presenciaram o momento em que Lilica, pela primeira vez, caminhou sozinha. “Ela estava com atrofia muscular e minha mãe massageava as perninhas dela, fazendo exercícios de fisioterapia para ajudar na recuperação. A Lilica era a "estrela" da ONG por um bom tempo, eu mostrava o dia a dia dela nas nossas redes sociais e as pessoas se apaixonaram. Porém, ela foi ficando e, em agosto do ano passado, eu cheguei em casa e estavam as gurias da ONG com balões, a Lilica no colo e um cartaz escrito "Fran, você aceita ser a minha mamãezinha?"


Francine continua na diretoria da ONG e tem vários animais sob sua responsabilidade espalhados em lares temporários por toda cidade. “Muitas vezes eu e as gurias nos desanimamos com o desgaste emocional e todas as dificuldades que enfrentamos pra manter a ONG viva, mas ver a recuperação e felicidade deles após estarem bem e encontrarem famílias responsáveis para adotá-los não tem preço”, diz, feliz pelo trabalho que realiza e pelos três amores que chegaram em sua vida e nunca mais saíram. A vida dos três, ao lado do mano mais velho Tobias, pode ser acompanhada pelo perfil no Instagram @tresdoguinhos.


O mundo fica melhor

Quem também se vê mais feliz com a vida entrelaçada com a causa animal é a fisioterapeuta Aline Rodrigues Mengarda. Quando criança, convivia com animais. Na adolescência, já realizava resgates nas ruas, cuidava e conseguia adoção. Com o tempo, se viu atuante na causa animal. “Participar dessa causa preencheu um vazio que eu tinha, de não estar retribuindo para o mundo tudo que tenho de bom na minha vida. É uma pequena contribuição para ajudar na vidinhas desses anjos. Respeito o tempo deles de voltar a confiar nos humanos para depois tentar encontrar a família que será definitiva”, diz.


Aline é tutora de Max, mas diversas vidas de quatro patas já passaram por sua vida. Somente nos últimos dias, quatro filhotes viraram seus inquilinos. Hóspedes estes que ela acha difícil ver embora, mas entende que é preciso. “No começo foi complicado, mas foi ficando natural com o passar do tempo. O que acalma meu coração é saber que eles foram embora para encontrar uma família que será sempre deles”, pontua.


Ao lado de Max e dos seus amores temporários, ela aprendeu muito sobre pureza, desapego e carinho. “Acredito que se cada um fizer um pouco do que está ao seu alcance, o mundo fica melhor. As ONGs necessitam de todo tipo de ajuda, pois é tudo feito através de doações, seja em dinheiro, tempo, objetos, medicações, carona. E uma das formas de ajudar é o lar temporário. Se você gosta de animais e tem um lugar para recebê-los, indico de todo coração que faça”, indica.

 
 
 

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