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Um ano dos 10 dias que pararam o Brasil


Mudou a vida de todos. Do caminhoneiro, do comerciante, da dona de casa e do agricultor. Do empresário ao funcionário. No fim de maio de 2018, o Brasil vivia um dos maiores movimentos da sociedade, em prol de um bem em comum. A greve dos caminhoneiros, que teve como um dos líderes em Santa Cruz o autônomo Jonathan Heck, tornou-se um protesto de todos. Há pouco mais de 12 meses, o santa-cruzense estava na frente de casa, com um grupo de colegas, iniciando aquilo que mudaria a rotina na cidade e que respingaria em Brasília, na casa dos governantes.


Foi com uma conversa informal ao meio-dia de 20 de maio de 2018, que o protesto já visto em algumas partes do Brasil teve início em Santa Cruz do Sul. Naquela tarde, os primeiros caminhoneiros foram abordados no Trevo do Gaúcho Diesel e, até então, o pensamento de Heck era de que o movimento durasse, no máximo, dois dias. Nunca imaginou que, após algum tempo, o protesto envolveria todas as classes trabalhadoras e faria, literalmente, o Brasil parar.


Com permissão da Polícia Rodoviária Estadual (PRE) e apoio da Brigada Militar e da Fiscalização de Trânsito, fizeram uma greve sem registros policiais e sem confusão. “Estávamos ali para fazer manifestação e não bagunça”, relembra Heck. Conforme o caminhoneiro, a presença constante dos líderes e a proibição de bebidas alcoólicas durante o ato, foram medidas essenciais que garantiram que o protesto em Santa Cruz fosse lembrado apenas pela luta de direitos.


Ao lado da esposa Aluciata Graciela Diehl e da filha Julia, hoje com nove anos, Heck trocou a comodidade de sua casa para, ao lado de colegas, mostrar a força dos caminhoneiros no trevo que virou, por dez dias, o lar de todos. Os pais do caminhoneiro, Rosane e Alceu Francisco Heck, também estiveram presente. “Eu fiquei muito orgulhosa de ver a proporção que a atitude deles tomou. Lembro de ver o meu filho chorando”, diz.


Luta, mas também muita emoção

Enquanto lutava, Jonathan Heck, 33 anos, também precisava lidar com as emoções. Enxergar a dimensão do ato que iniciou pequeno e, dias após, parava Santa Cruz e região, o fazia ter certeza de que estavam no caminho certo. Porém, a demora pela resposta do governo o fez, muitas vezes, pensar em desistir. Era nesse momento que o apoio das esposas, dos agricultores, taxistas, sindicatos, motoristas de aplicativos e comerciantes faziam toda a diferença. “Chegavam e diziam que estavam com a gente. Nos trouxeram mantimentos. Nos parabenizavam. Aquilo nos fortalecia e nos renovava”, relembra Heck, que seguiu os passos dos dois avôs, dos tios e do pai ao escolher a profissão.


O grupo que começou pequeno se tornou uma grande família. “Nunca imaginei chegar onde chegamos. Foi bonito, fizemos amizades. Quando terminou fomos nos despedir com um almoço. Ainda quero reunir novamente esse pessoal”, planeja Heck, morador do Bairro Esmeralda. Quem também não esquece é a mãe Rosane, conhecida por Rose: “Depois que terminou, até sentimos falta”.


Um Brasil em construção

Ao final da greve, muitos foram os reflexos positivos sentidos pelos caminhoneiros. Porém, conforme Heck, os resultados obtidos foram desaparecendo com o tempo. “Tivemos a baixa do diesel, mas disparou. O mercado dos transportes praticamente parou, com a compra de frota de caminhões pelas grandes empresas. Porém, o que mais preocupa, é a tabela do frete. Se o combustível sobe, ela também precisa acompanhar”, explica. Entretanto, não há planos para uma nova greve.


De acordo com Heck, é preciso ser realista e ter paciência. “Tem os agitadores, mas é preciso pensar antes de agir. O presidente sabe das nossas dificuldades, tem muita coisa em pauta e encaminhada. Já era para estar melhor, mas temos que entender. Não defendo partidos, mas precisamos compreender que o presidente não faz nada sozinho”, considera. Mas, Heck salienta que se não houver uma melhora nos próximos meses, a greve poderá sim ser cogitada. Afinal, ele relembra que sem caminhão, o Brasil para e que às vezes, infelizmente, apenas atitudes extremas levam a bons resultados.


 
 
 

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