top of page
Buscar

"Queremos justiça ao tamanho do que foi a tragédia da Kiss"


Os números envolvendo o incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria, continuam impressionando. Após 242 mortes, 680 feridos e milhares de pessoas afetadas com a tragédia, foi preciso mais de dois mil dias para que os pais pudessem ter a data do primeiro julgamento. Sete anos depois, o júri será realizado no dia 16 de março, no Centro de Convenções da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).


No mesmo local onde a maioria das vítimas - universitárias- pisou, antes de entrar e não ter chance de sair com vida da boate naquela noite de 27 de janeiro. A UFSM será palco do que é esperado como o maior julgamento da história do Rio Grande do Sul. Ato que será acompanhado de perto pelo santa-cruzense Nestor Raschen, que aguarda justiça pela morte do filho.


E não apenas pela do jovem Matheus Rafael Raschen, mas por todas as outras 241 vítimas de um incêndio que marcou a vida de todos os brasileiros. Raschen, que é diretor do Colégio Mauá em Santa Cruz, espera que a justiça seja ao tamnho do que foi a tragédia. "Não visamos apenas a condenação, mas um exemplo de que todos têm responsabilidades pela vida dos outros", diz. E, por pensar isso, lamenta que apenas quatro pessoas tenham se tornado réus. "Começamos com 28 indiciados e sobraram quatro", ressalta.


O júri

Dos quatro réus, apenas um será julgado em Santa Maria. No dia 16, Luciano Bonilha Leão, produtor musical da banda Gurizada Fandangueira, será julgado pelo Conselho de Sentença, constituído por sete jurados e presidido pelo Juiz de Direito Ulysses Fonseca Louzada. Ele será representado pelo advogado Jean de Menezes Severo, enquanto pela acusação os representantes serão os Promotores de Justiça David Medina da Silva e Lúcia Helena de Lima Callegari. Além do acusado, durante a sessão, serão ouvidas 10 testemunhas e 30 sobreviventes.


Já Elisandro Spohr, conhecido como Kiko, empresário e sócio da boate Kiss, Mauro Hoffman, também sócio da boate, e Marcelo de Jesus dos Santos, vocalista da Gurizada Fandangueira, serão julgados em Porto Alegre. Todos eles entraram com pedido de desaforamento e conseguiram a transferência de Comarca. O julgamento deve ocorrer ainda neste semestre.


Para acompanhar esse momento histórico na vida de todos que têm algum tipo de cicatriz física ou emocional, a Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) prepara uma recepção aos familiares e sobreviventes. Segundo Raschen, que já fez parte da direção da entidade, a AVTSM fez uma vaquinha para arrecadar recursos para acolher moradores de outros municípios. Clique aqui para ajudar.


E depois?

A batalha não acabará após os julgamentos. Conforme Nestor Raschen, a dor e a luta também aconteceriam se houvesse apenas uma pessoa morta. Mas as 242 vidas perdidas fazem a sociedade gritar por uma solução. "O país perdeu, o Rio Grande do Sul perdeu, Santa Maria perdeu. Perdemos pessoas que poderiam estar aqui ajudando. Talvez alguém que hoje teria descoberto a vacina contra o coronavírus. Faltam também os abraços, as conquistas que não tivemos a chance de ver", comenta, emocionado pela saudade do filho Matheus.


Para que a tragédia não se repita, os pais, sobreviventes e a AVTSM lutam pela contínua fiscalização das casas noturnas. "Queremos que nossos jovens possam se divertir, sem que suas vidas corram riscos", diz. Além disso, há a expectativa pela construção do memorial. Uma ação aguardada pelos familiares e que mudará o cenário da Rua dos Andradas, no centro da cidade universitária. O projeto vencedor, do arquiteto paulista Felipe Zene Motta, prevê a construção de um jardim circular de flores no local do prédio em ruínas. À sua volta, 242 pilares de madeira, cada um representando uma vítima da tragédia. Segundo Raschen, uma homenagem e um ponto de encontro para que todos se recordem daquilo que nunca deveria ter acontecido.

 
 
 

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page