Moradora de Venâncio cria página para compartilhar amor de mulheres pelo meio rural
- Luiza Adorna
- 15 de jul. de 2021
- 3 min de leitura
Matéria para Portal Arauto: Link original: https://www.portalarauto.com.br/Pages/193151/moradora-de-venancio-aires-cria-pagina-para-compartilhar-amor-de-mulheres-pelo-meio-rural
Um espaço para mulheres que vivem no campo e têm muito orgulho disso. Esse foi o propósito de Veridiana de Souza Guimarães, 29 anos, ao criar a página "Ela é da roça" no Facebook. Moradora de Linha Taquari Mirim, no interior de Venâncio Aires, ela administra o perfil que, em 11 dias, já coleciona mais de 1,5 mil seguidores: pessoas que, assim como ela, são apaixonadas pelo meio rural e vivem nesse universo não porque precisam, mas porque é lá onde elas querem estar.
Neta e filha de agricultores, Veridiana cresceu em meio à natureza no interior de Venâncio Aires. Por isso, sempre admirou a força daquele povo e sempre se orgulhou de suas origens. Desde nova fez questão de ajudar os pais Ana Aparecida de Souza e João Antonio Guimarães nas lavouras de tabaco e também de trabalhar por dia para vizinhos e familiares, a fim de ter o próprio dinheiro para comprar tudo aquilo que não queria ficar pedindo para os pais. Foi assim que aprendeu o quanto a luta no campo é árdua, mas também gratificante e especial.
Quando conseguiu uma bolsa do Prouni e iniciou o curso de Jornalismo na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Veridiana parou de trabalhar no meio rural, mas continuou morando no interior e admirando a agricultura. "Trabalhei um tempo em jornal, fiz assessoria de imprensa também, aí larguei a área. Não conversou comigo e fui seguir outros caminhos", conta. Já casada e ainda próxima das atividades rurais por conta do marido agricultor, Veridiana passou a fazer graduação e mestrado em Letras, e logo conseguiu estagiar na área. "Em 2018, terminei a graduação em Letras e perdi o estágio na escola", conta.
Sem trabalho, começou a ajudar nas lavouras com o marido Marcelo Fagundes da Silva e passou a se dedicar ainda mais após o falecimento do sogro, que comandava os trabalhos ao lado do filho. "Comecei a pegar paixão por tratores e maquinário. Passei a querer em ir em eventos que geralmente apenas homens gostam de ir", relata. Assim, foi construindo uma relação de amor ainda mais forte com o meio rural.
No final de 2019, ganhou uma bolsa de doutorado, mas como não havia remuneração decidiu continuar no campo. Em 2021, a bolsa passou a ser remunerada e Veridiana parou de trabalhar nas lavouras para se dedicar exclusivamente à Unisc. "Como não queria me afastar, a página foi um meio de conseguir interagir com o meio rural", explica.
Com o perfil, tem a chance de compartilhar momentos no campo, nas plantações de soja e milho ou nas criações de gado e galinhas. Além disso, divulga fotos de seguidoras que, assim como ela, vivenciam esse universo. "Sou uma colona do interior que por mais que agora tenha menos tempo de participar, eu mostro e compartilho na página as minhas fotos e as fotos das minhas seguidoras. Mulheres que vivem na roça e têm orgulho disso. Quero mostrar que nós também podemos ser apaixonadas por trator. Quando eu estou dirigindo, as pessoas ficam admiradas porque parece não ser coisa feminina. Mas eu quero que isso seja normal, que cada vez mais mulheres operem máquinas", salienta.
Por isso, fica alegre ao ver a repercussão do projeto. "Acho que a página tem bastante aceitação desde o início porque não se vê quase páginas direcionadas a publicações de mulheres. Se for pesquisar, a maioria das páginas são de administradores homens. Quero fazer da página uma mistura de rotina, com compartilhamento de outras mulheres e também uma pitada de humor. A página é tanto minha quanto das outras pessoas também, que tiram fotos e pensam em mandar pra mim. É uma página compartilhada", destaca.
A intenção, daqui para frente, é continuar produzindo conteúdos e expandir, num futuro próximo, para o Youtube e Instagram. Afinal, quer compartilhar uma importante mensagem para cada vez mais pessoas: "Eu quero mostrar que aquela ideia de que a mulher fica na roça porque não tem outra alternativa ou porque não estudou não é verdadeira. Eu quero mostrar que colono também pode fazer doutorado. E que doutor também pode ser colono. Eu quero ter meu emprego porque eu também gosto da escola, mas se minha ideia foi ficar só em cima de tratores, eu não vejo mal nenhum nisso. Ser da roça não é falta de opção. É amor", conclui.
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