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Como o santa-cruzense descarta as 2,4 mil toneladas de lixo por mês?


Quando Angela Maria Nunes abre uma sacola com descarte de lixo, no dia a dia de seu trabalho, costuma encontrar um misto de materiais que reduz a possibilidade de reciclagem e dificulta o cotidiano dos funcionários da Usina de Triagem de Lixo do Bairro Dona Carlota, em Santa Cruz. A catadora de 52 anos, que viu a Cooperativa de Catadores e Recicladores de Santa Cruz do Sul (Coomcat) nascer, lamenta a situação. Não apenas por sua função se tornar mais complicada, mas pelo mundo que ainda não entendeu a importância de seus atos.


Conforme o engenheiro ambiental responsável pela usina, André Hermann, os santa-cruzenses produzem 2.400 toneladas de lixo por mês. Deste total, cerca de 40% é passível de reciclagem. Porém, apenas 3,5% do resíduo recebido é aproveitado. O restante está, como costumam dizer, contaminado. Misturado com lixo molhado e com um destino diferente do que gostariam: no lugar de material reaproveitado, torna-se pedaço de uma das quatro cargas levadas por dia ao aterro de Minas do Leão.


A falta de conscientização, para Hermann, afeta o setor de reciclagem, dificulta o trabalho dos catadores e aumenta os custos do município, já que cada carga levada a Minas Leão gera custos. "É algo simples. Precisamos separar corretamente em casa. Sinalizar que na sacola há sapatos, por exemplo, para doação ou que há um objeto perigoso, que possa machucar quem ali trabalha", diz.


Riscos para os catadores

Luis Carlos Nunes, 48 anos, já viu de tudo em seus 10 anos de cooperado. "Esses dias, passou um refrigerador inteiro. Além do descarte incorreto, não pensam nas catadoras mulheres, que atuam aqui na usina. Chega lata de tinta, pilhas e pneus inteiros. É muito triste. Eu faço minha separação em casa. Não é difícil. Não entendo como as pessoas ainda não aprenderam", lamenta.


Angela e Nunes são irmãos e juntos se orgulham da função de catadores, mas também presenciam juntos o descaso da comunidade com a saúde deles. "Chega muito agulha, sem nenhuma proteção. Por diversas vezes furamos nossos dedos e acabamos ficando expostos a todo tipo de vírus", relata Angela. O grupo, inclusive, tem uma parceria com o município para realizar testes assim que o contato com as agulhas ocorrem.


Quando o receio não é pelos objetos cortantes, como os cacos de vidros que também chegam sem observação, o medo também aparece quando a sacola é suspeita. "Se o saco de lixo tem um conteúdo mais mole, já ficamos imaginando o que veremos desta vez. Recebemos muitos cachorros e outros animais mortos", conta Angela que já precisou presenciar, inclusive, corpos humanos. Há alguns anos, em uma das aberturas das sacolas, encontrou o corpo de um recém-nascido. Uma cena que lembra até hoje.


É preciso repensar

Para os catadores, a esperança está nas crianças, que durante as visitas das escolas na usina, se mostram muito mais preocupadas do que os adultos. Quem concorda é o secretário de Meio Ambiente, Saneamento e Sustentabilidade, Raul Fritsch, que destaca quais são os passos ideais para um descarte correto.


Conforme Fritsch, a Associação Brasileira de Empresas Públicas e Resíduos Especiais (Abrelpe) calcula que a média nacional de resíduos que poderiam ser reciclados é de 30% no Brasil. Mas, a realidade é outra. Para mudar, aos poucos, esse cenário negativo, o secretário pede a colaboração da comunidade. "O correto é ter em casa, separação de lixo seco-coleta seletiva, lixo orgânico que pode ser usado em hortas ou floreiras como adubo, e o rejeito que é encaminhado para a coleta domiciliar que é feita pela Conesul. O pior erro é fazer o descarte de resíduos em áreas irregulares e não licenciadas. Já os resíduos cortantes devem ser bem acondicionados em caixas e, se possível, bem enrolados em jornais ou outro papel", recomenda.

 
 
 

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