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Com a aposentadoria, ainda mais motivação


Se engana quem pensa que com a terceira idade, apenas aparecem dores e um cabelo grisalho. Com as rugas no rosto e a aposentadoria, o ser humano adquire um dos bens mais preciosos: tempo livre para fazer o que gosta. Ou, o que aprendeu a gostar. Há quem trabalhe pensando na aposentadoria, mas também quem se aposenta e não para de trabalhar. É o caso de Alceu Herbets e Juvenil Antônio Goulart, moradores de Santa Cruz do Sul. Com mais de 70 anos, ambos utilizam seus dias, comprovando que a terceira é sim a melhor idade.


Uma vida com muita cor

Quando Alceu Herberts começou a trabalhar, uma palavra já ecoava em sua mente: aposentadoria. Diferente de muitos, ele sabia que com a terceira idade viriam ótimos momentos. Então, trabalhou pesado, com o olhar no futuro.


Mês que vem, o santa-cruzense comemora 73 anos e na bagagem há muitas histórias para contar. Filho de Edmar e Olívia Herberts, ele cresceu na mesma região em que hoje mora: nas proximidades da Unisc. Filho único, ele deixou de lado o sonho de ser piloto e ficou em seu ninho. Mas isso não o impediu de voar.

O filho do marceneiro e da doméstica teve como faculdade a vida. Aprendeu engenharia em seus trabalhos nas fumageiras. Começou em 1968, na Sinimbu, atual Philip Morris. Fez carreira e história dentro da indústria. Evoluiu e viu a empresa crescer. Chegou a trabalhar três dias sem ir para casa. Vestiu a camisa. Todo o esforço, era por amor.


Em 1995, se aposentou, mas continuou trabalhando até 2004. Entrou no Programa de Demissão Voluntária (PVD) da empresa e foi embora no dia 13 de agosto. No dia 14, já estava trabalhando na floricultura da família, criada por ele em 1997. Ali, entre as flores e plantas, ficou até 2007. Porém, nunca deixou de mexer com a terra.


Desde a viagem a Holambra, em São Paulo, estabeleceu uma relação com cada muda de planta e cada pétala de flor. Tem sua produção própria de orquídeas e faz parte da Associação Santa-Cruzense de Orquidófilos. Embora sem uma rotina de trabalho na floricultura, ainda continua perto, conferindo a expansão da empresa ao lado dos funcionários e dos clientes da Verde Sul. Uma das diversas atividades que faz, agora que o tempo é todo seu.


Alceu Herbets acorda todos os dias às 5h. Toma café, alimenta os animais e caminha por uma hora. Faz isso todos os dias, mas aos domingos muda a rota: da pista de caminhada da Unisc para um trajeto diferente pela Cohab e pelo Universitário. Ele ainda faz hidroginástica duas vezes por semana e cuida da propriedade de 1,5 hectares. Desde 2007, conheceu 16 países. Sempre ao lado da esposa Erna Eugênia, com quem teve Ângela, engenheira agrônoma, e Ana, arqueóloga.


Os cinco quilômetros diários que caminha substituem o tempo que ele gastaria resolvendo problemas que prefere não se envolver. Evita agências bancárias, cartão de crédito e nem se interessa por computador. Para ele, é simples: se não precisa, ele não quer. Alceu é prático e gosta de atividades diferentes. Se considera um pequeno apicultor, tem plantações e retira lenha da chácara em Rio Pardinho. Passa longe dos jogos de azar e cuida da saúde. Observa a vida e aconselha: “Escolhe a profissão que te realiza e não vá pelo dinheiro. A pior coisa é fazer o que você não gosta, pois então irá se frustrar”.


Alma de guri

Juvenil Antônio Goulart nasceu em Candelária, mas com 17 anos fez de Santa Cruz do Sul seu lar. O filho de João dos Santos Goulart e Luciane Marques de Oliveira Goulart tem hoje 79 anos, mas ainda continua jovem como um guri. Ao contrário de Alceu, Juvenil tinha receio em se aposentar, porque nunca quis parar as atividades. Porém, quando o dia chegou, descobriu que apenas no pátio de casa, há dezenas de tarefas por fazer.


Sua vida profissional iniciou em uma fábrica de tijolos. Mais tarde, leu alguns livros, conheceu pessoas com quem aprendeu e se tornou eletricista. Foram 17 anos de profissão, que até hoje é sua favorita. Em 1983 teve o seu primeiro mercado na Avenida Gaspar Bartholomay. Depois passou pela Assis Brasil e, por último, na Carlos Trein Filho, onde até hoje mora. Fechou as portas do estabelecimento há quatro anos, quando decidiu construir um prédio e ter renda extra com alugueis.


No pátio da divisa do Bairro Goiás e Centro, ao lado da esposa Alair Goulart (a Neni), cuida da horta, das abelhas mirim, das frutas e da terra. Quando algo precisa ser ajustado, consertado ou elaborado, lá está ele, com quase 80 anos e agilidade para subir em cima do telhado, caso precisar. A amada Neni, embora tenha receio das aventuras de guri, sempre está por perto para ajudar. Juntos desde o matrimônio em 1972, há quem diga que Neni não sabe caminhar se não estiver ao lado dele.


Enquanto ela cozinha, lê ou prepara geleias, ele capina, rega, colhe e arruma. Na horta, aos fundos do prédio construído e ao lado da casa em que passam seus dias, há plantação de cenoura, ervilha, feijão de vagem, mostarda, salsa, espinafre, pepino, acerola, jabuticaba, uvas e uma série de chás.

"Eu não gosto de ficar sentado. Estou na ativa, até escurecer", diz. Quando repousa, divide uma caipira, uma cerveja ou um vinho com a esposa e já planeja as próximas atividades. Ele ainda lê, diariamente, pelo menos uma página da Bíblia. Sabe que a força para superar as dores da idade e os problemas que aparecem está em Deus.


Tanto Juvenil, quanto Alceu, passam seus dias com a consciência de que cada período de 24 horas é abençoado e único para realizar aquilo que se quer. Mesmo sem a rotina do expediente, do horário de chegada e de saída. Mesmo com rugas e cabelos brancos. Mesmo com algumas dores. A dupla já fez sua parte para o mundo e agora sabe que tem o mundo para admirar.

 
 
 

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