Após 13 anos perdido, cão reencontra a dona em Santa Cruz

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"Se eu não tivesse sido tão covarde, teria carregado eles comigo". Por 13 anos, Marlete Dolores Fardin carregou o peso da pior decisão que tomou em sua vida: doar quem nunca lhe trocaria. Ao precisar mudar de uma casa para um apartamento, pensou que o melhor que faria para seus dois cockers era encaminhá-los para outro lar com espaço para correr. O que ela não sabia é que aqueles dois cães preferiam viver com limitações, mas perto do amor da tutora com quem conviveram por três anos. Naquele dia - que jamais vai esquecer - os levou para o banho e, com lágrimas nos olhos, o conduziu para o novo lar: aquele onde ela não estava e que eles não queriam ficar.

O combinado era ela poder visitar os animais, mas poucos dias depois foi avisada que a dupla havia fugido da residência, no Bairro Ana Nery, em Santa Cruz do Sul. Começava aí o pior período de sua vida, que se estendeu por mais de uma década. Depois de muito procurar os cães pelo município, descobriu que Ducke - o cocker preto - havia falecido atropelado. Com o coração destroçado de tristeza e arrependimento, seguiu seus dias em oração para que Lord - o caramelo - estivesse bem e que, algum dia, pudessem se reencontrar. Foram anos e anos de pesadelos, angústia e lembranças distantes, como quando ela escovava os dentinhos dos animais e os colocava na cama para dormir.

Até que neste ano, ao entrar no Facebook, viu uma publicação que lhe encheu de esperança. Um coocker caramelo, idoso, havia sido encontrado na rodovia, em Venâncio Aires. "É ele! É o meu cachorro", gritou Marlete para o filho Arthur Gustavo Fardin Wendland. Contataram a responsável pelo resgate e no tão sonhado encontro, abraçados, olhando um para o outro, a reação que jamais vai esquecer: Lord, com seus pelos grisalhos, começou a se sacudir de felicidade, como fazia quando era apenas um filhote apaixonado pela tutora.

Voltar para casa foi natural para Lord. Animado como se nunca tivesse ficado longe da família, voltou para Santa Cruz do Sul e continuou sua trajetória ao lado da dona, de sua mãe humana que nunca deixou de amar. Assim, após tanto tempo de angústia, o coração de Marlete voltou a ficar em paz. Mudou para um duplex para ele ter acesso ao pátio e começou do zero tudo que gostaria de ter feito no passado e não fez. "Ele terá a velhice que merece. Quem tem seu bichinho e vai se mudar ou ter filhos: tem que levar ele junto. Porque o bichinho sente, como eu senti. Esse cachorro mudou a minha vida e esse resgate me permitiu seguir o meu dever de cuidar dele até ele partir", se emociona.

Testemunha do amor de Marlete por Lord, do sofrimento dela durante anos e do arrependimento que cortava seu coração, o filho Arthur teve a ideia de compartilhar - em um vídeo - a história da família. O objetivo? Mostrar para as outras pessoas as consequências emocionais que a separação de um tutor pode causar para um animal. "Não abandonem os animais em situações de mudança ou porque a criança não se adaptou. O amor não pode acabar por alguma situação. Você tem que cuidar dele até o final da vida e é isso que agora ela está fazendo", relata Arthur.

Depois de 13 anos longe, Lord agora só quer aproveitar. Faz questão de seguir Marlete pela casa, de ir com ela até o centro e de esperar ansioso olhando pela janela ou pelo portão. O passado do cão, no período distante, a família tenta imaginar. Acreditam que ele possa ter sido adotado e abandonado quando a velhice chegou. Mas, a prioridade de Marlete e Arthur é fazer com que Lord, aos 16 anos, esqueça o passado e tenha um presente lindo, regado de amor e companhia, em cada segundo do restante dos dias de sua vida.